Em um mundo em constante movimento, onde fronteiras são atravessadas por histórias, esperanças e desafios, acolher tornou-se mais do que um gesto solidário, tornou-se uma urgência humanitária. É com esse olhar que o Centro Universitário Univel, em Cascavel (PR), vem, desde 2019, desenvolvendo o Projeto Imigrantes - Razões para Acolher, uma iniciativa que extrapola o ensino da língua portuguesa e se consolida como uma verdadeira estratégia institucional de transformação social.
Idealizado pelo curso de Pedagogia e liderado inicialmente pela coordenadora pedagógica Vera Paulin, com apoio da coordenadora do curso de Pedagogia, professora Gislaine Buraki, o projeto nasceu da percepção de que ensinar português como Língua Estrangeira (PLE) era o primeiro passo para a inclusão. A criação de uma cartilha própria permitiu a estruturação de um método pedagógico voltado ao letramento funcional e à autonomia, fundamentais para a inserção social, cultural e profissional dos imigrantes.
Desde então, mais de 500 imigrantes (haitianos, venezuelanos, angolanos, entre outras nacionalidades) participaram das aulas. Mas o que começou como um esforço educacional evoluiu para uma ação abrangente de justiça social, acolhimento institucional e desenvolvimento sustentável. “Chegar ao Brasil foi um desafio, como é para qualquer imigrante. A língua era uma barreira, e muitas vezes a gente se sentia perdido. Mas quando conheci o Projeto Imigrantes da Univel, tudo começou a mudar. Foi lá que aprendi o português, que descobri o que é ser acolhido de verdade e que encontrei apoio para recomeçar. O projeto me deu mais do que conhecimento: me deu dignidade, oportunidades e esperança. E hoje, com muito orgulho, estou aqui como colaborador e também como professor de Língua Portuguesa para outros imigrantes que, como eu, buscam um novo caminho. É gratificante poder devolver à comunidade tudo o que recebi”, destaca Kervens Elien, ex-aluno do Projeto Imigrantes, hoje colaborador e professor do curso de Língua Portuguesa para imigrantes na Univel.
De um gesto pedagógico a uma política institucional
Com o tempo, a Univel compreendeu que acolher vai além da sala de aula. Por isso, o projeto se expandiu e passou a integrar os imigrantes como colaboradores da própria instituição, garantindo não apenas emprego, mas dignidade, pertencimento e oportunidade.
Hoje, eles atuam nos mais diversos setores da Univel, da segurança aos laboratórios técnicos, da limpeza ao atendimento administrativo, com todos os direitos trabalhistas garantidos, acesso a vale-alimentação, desconto em farmácias, parcelamento de exames médicos e suporte contínuo que a instituição pode oferecer.
A coordenadora do Centro de Pesquisa e Extensão, Kátia Salomão, reforça esse compromisso que a instituição tem em garantir espaço para essa população de outra nacionalidade. “A Univel foi além do trabalho. Percebemos que era necessário cuidar da saúde e do bem-estar desses colaboradores. Abrimos as portas das nossas clínicas de saúde para os imigrantes e suas famílias, que muitas vezes enfrentavam barreiras no acesso aos serviços públicos. Esse é o verdadeiro sentido de um projeto transformador: acolher, capacitar, incluir e garantir dignidade”, destacou.
Saúde, acolhimento e rede de apoio estendida à família
O projeto se fortaleceu com ações complementares que garantem uma rede completa de proteção e integração:
-Empregabilidade com inclusão real: mais de 28 imigrantes atuando como colaboradores em 2024, com previsão de 37 em 2025.
-Saúde gratuita para os imigrantes e suas famílias, com atendimento nas clínicas-escola de Psicologia, Fisioterapia, Odontologia e Nutrição.
-Apoio psicológico e psicopedagógico: com o Núcleo de Atendimento Psicopedagógico (NAPP) e psicoterapia on-line para colaboradores.
-Cidadania e acesso à educação: um ambiente que promove respeito, escuta ativa e inclusão.
Resultados concretos e crescimento contínuo
O impacto do projeto é evidente, em 2024, 163 imigrantes certificados, 51 atendimentos psicopedagógicos e 28 colaboradores imigrantes contratados. Para este ano, a previsão é encerrar 2025 com mais de 500 certificados, 72 atendimentos NAPP e 37 colaboradores contratados. O projeto já impactou mais de 1.440 pessoas, entre imigrantes, acadêmicos, professores e voluntários.