A fotógrafa Bia Soave (@biasoave), de Campinas, São Paulo, levou um susto com a caçula, Olívia, 2 anos e 7 meses. "Meu marido estava brincando de Lego com meu filho maior, e Olivia estava em volta. Em um momento, começou a escorrer o nariz dela. Ela ainda não sabe assoar, então, meu marido foi limpar, mas ela chorou muito. A gente achou estranho, mas passou, e acabamos seguindo", conta.
Os pais entraram em contato com o médico que havia feito uma cirurgia de adenoide em Olivia há poucos meses, e ele recomendou que ela fosse levada ao pronto-socorro. "Lá, a pediatra nos levou para uma sala de procedimentos, pediu para eu abraçar forte Olivia. Ela colocou um caninho de oxigênio na outra narina e ligou. O ar empurrou o objeto do outro lado, que acabou saindo. Graças a Deus", afirma.
Passado o susto, a mãe decidiu compartilhar a experiência nas redes socais. "Essa foi a primeira emergência com nossa filha. E espero que a última, que desespero", admite. "Deixo aqui meu alerta para vocês, pais, para sempre respeitarem a idade indicada na caixa dos brinquedos. Se essa idade está lá, tem um motivo muito real!", diz Bia na publicação feita no Instagram.
Em duas semanas, o vídeo teve mais de 2,1 milhões de visualizações. "Recebemos muitas mensagens e vimos o quanto isso é normal. As crianças colocam de tudo no nariz — até alimentos, como feijão. E, claro, recebemos também muitas críticas. Disseram, inclusive, que era uma situação pequena e que transformamos em uma situação grande", desabafa a mãe.
Apesar de parecer inusitada, essa situação corresponde a até 15% dos casos de emergência em serviços de otorrinolaringologia, de acordo com uma pesquisa feita na Faculdade de Medicina de Marília (SP). Segundo a otoneurologista Jeanne Oiticica, chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, os pais devem levar a criança imediatamente ao pronto-socorro e não tentar retirar o objeto em casa. "Uma vez que o item está preso na narina da criança, a preocupação é que ele não desça para as vias aéreas e provoque engasgos e sufocamento", explica Oiticica. "Mesmo com boas intenções, os pais não têm a técnica e os instrumentos necessários para a remoção do objeto e podem acabar complicando o quadro da criança se tentarem retirar em casa", alerta.
No caminho até o hospital, a médica sugere que a criança permaneça sentada, pois o objeto tem mais chances de se deslocar caso ela esteja deitada. Normalmente, o item é facilmente retirado no pronto-socorro, mas, caso ele tenha descido, um procedimento cirúrgico pode ser necessário. Cerca de 4% dos casos levam à internação e 0,7% causam óbito.
Segundo a especialista, a simples presença de um adulto próximo às crianças não é suficiente para prevenir esse tipo de acidente, afinal, apenas 5% das crianças que passaram por isso estavam desacompanhadas. "Na maioria das vezes, os pais estão focando em outras atividades da casa ou até cuidando de outro filho enquanto o incidente acontece", explica.
Por isso, o segredo está na forma como você organiza a sua casa, deixando objetos pequenos e cortantes fora do alcance das crianças. Além disso, é claro, fique de olho enquanto o seu filho brinca e come: arroz, feijão, milho e peças de brinquedos pequenas são os principais itens encontrados nesses casos.
Preste atenção, ainda, se a criança apresentar mal cheiro nasal e rinorreia (secreção de catarro) em uma das narinas. "A maioria das crianças que chegam ao hospital com objetos no nariz são meninos (54% dos casos) e tem até 3 anos de idade", afirma Oiticica. "Nessa faixa etária, elas são muito curiosas e tendem a levar tudo à boca, porque não sabem discenir o que é perigoso ou não. A partir dos 4 anos, é mais fácil conversar sobre os riscos de se machucar e como prevenir isso", finaliza.
Fonte: Revista Crescer